Professores e professoras, assim como estudantes de todo o estado de São Paulo fizeram na semana do dia 13 ao dia 19 de maio a ‘greve dos aplicativos’, movimento de protesto contra a utilização de plataformas digitais no ensino público estadual.
Aprovada em assembleias realizadas pelo Sindicato dos Professores no Ensino Oficial do Estado (Apeoesp), a greve consistiu em não utilizar as plataformas de inteligência artificial implementadas pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), e por seu secretário de Educação, Renato Feder e, desta forma, fazer com que as aulas tenham um caráter humanizado como deveria ser.
Para os professores e também para os alunos, o método imposto pelo governo do estado não é satisfatório, não promove qualidade no ensino, além de ‘mecanizar’ a educação, destruindo a ‘essencial’ relação aluno-professor. A afirmação é do primeiro presidente da Apeoesp, Fabio Santos de Moraes, que reforça a importância e o direito de haver liberdade dentro de sala de aula ao ministrar conteúdos educativos.
“As plataformas simplesmente padronizam o ensino para milhões de alunos no estado, que tem diferentes realidades. Não podemos aceitar que alguém, em algum lugar, decida o que todos devem aprender, sem respeitar especificidades”, diz o dirigente, que é professor de história.
Moraes ressalta que o uso da tecnologia é importante, mas tem que ser utilizada de forma a ajudar a complementar o trabalho do professor e não apenas substituir o educador. “As plataformas são autoritárias sob todos os pontos de vista. Elas padronizam conteúdo, obrigando o professor a seguir aquele método naquele momento”, diz o dirigente, reforçando que o professor não tem liberdade para ministrar a aula, à sua maneira.
“O professor faz a chamada e já entra o conteúdo da aula na plataforma. Ele não decide como será o dia de acordo com as especificidades, de acordo com o momento. Não pode usar textos complementares, livros, apostilas, nada”, ele explica.
Os aplicativos e as plataformas digitais estão transformando o ensino numa atividade fria, formatada e distante, resultando em um péssimo aprendizado
Mecanizado e sem possiblidade de abrir debates, trocas de ideias e até mesmo esclarecimento aprofundado de dúvidas acerca das disciplinas, o sistema consiste em o professor abrir a plataforma, ‘passar’ ao aluno a matéria e logo depois a plataforma já traz as tarefas relacionadas.
E caso o professor não siga, o próprio sistema já informa a direção da escola que é obrigada a tomar providências, “até mesmo sem concordar com o método”, observa Moraes.
Efeito
“A realidade é que com a falta de um contato com um ensino humanizado entre aluno e professor, os estudantes acabam não aprendendo. É uma forma fria que acaba com a capacidade de senso crítico dos alunos. O objetivo do governo é um controle ideológico”, diz Fabio Moraes.
Ele reforça que, além do conteúdo ser duvidoso e com erros grosseiros como citar que na capital do estado, São Paulo, há praias e mencionar o movimento de extrema direita, MBL, as plataformas têm um custo elevado para os cofres públicos. Paralelamente, diz o presidente da Apeoesp, o governo do estado mantém escolas sucateadas e não cumpre com o pagamento do piso constitucional da categoria.